quinta-feira, 3 de março de 2011

Capítulo I - Do Parto

Senhor Rafael Gonçalves era um homem gordo, fanfarrão, que sempre estava rodeado de amigos. Sempre que saía na rua, ao encontro do sol, sua pele se avermelhava, e suava por todos os lados. Eu o conheci ainda muito novo, quando seu cabelo era comprido, e sua barba estava apenas começando a nascer. Sempre nos demos muito bem, tão bem que causávamos inveja às outras pessoas do bairro.
            Ah! O bairro! Como pude me esquecer de falar do bairro?! Nessa época, morávamos em Cubatão, uma pequena cidade no litoral paulista. Foi lá que eu vi Rafael Gonçalves nascer. E veja bem, eu não somente o vi nascer, eu o fiz nascer! Sim, sou médico, meu verdadeiro nome é Eduardo, mas sou mais conhecido como “Doutor Marmota”, graças a uns moleques do bairro que me colocaram esse maldito apelido. Cansei de arranjar brigas nas ruas quando ouvia algum engraçadinho dizer:

            -Bom dia Doutor Marmota!

            Nunca entendi o motivo do apelido, mas creio que é graças a meu modo de andar. Bom, deixemos essas bobagens de lado, pois não é sobre isso que falarei nesse capítulo!
            Eram meados da década de 50 quando ajudei Rafael, o pequeno Rafael, a vir ao mundo. Foi um parto difícil, que acabou por fazer uma vítima, Dona Josefa, a mãe de Rafael. Fiz tudo o que pude, isso posso garantir... Fiz mesmo! Porém, aquela pequena alma expirou, em despeito a todo o meu trabalho! Ainda era época de partos em casa, sem qualquer recurso maior que panos molhados para estancar o sangramento. Ainda mais aqui, no bairro. Ela teve uma grande hemorragia, que não consegui conter. Nada fazia efeito. Cheguei a pensar que perderia a criança e a mãe. O pobre menino nasceu com o cordão enrolado no pescoço, mas graças a sua tia, que realmente não sei o nome, ele sobreviveu. Nunca vi uma mulher tão cheia de si, assim que a criança começou a sair, ela já guerreou com a natureza e salvou o sobrinho. Porém, eu não fui tão forte... a mãe expirou.

3 comentários:

  1. Não passa despercebido o seu progresso na escrita. Quanto mais pratica, melhor se sai. E esta obra, se fora publicada, será ainda melhor do a outra, e não será diferente com as que virão após.
    Nunca pare Caio, você nasceu pra isso. Adoro ler-te.
    Espero que fique fixo neste cantinho.


    Agora sobre o texto:
    Me lembrou um livro que hoje mesmo uma amiga minha e eu estávamos falando, Madame Bovary. Me foge agora o nome do autor, mas ele se trata de um médico que acaba perdendo um paciente na sala de cirurgia, e então, nunca mais é o mesmo. Ele muda, se entristece, e pensa até mesmo em desistir da carreira. O livro acaba com um desfecho diferente, devido ao fato dele girar em torno da Madame, que até mesmo leva o título, esposa dele.
    Ainda não o li, apenas me veio a cabeça. Nem sei porque cargas d'água falo tanto e acabei por citá-lo aqui.

    Bom Caio,
    Fico por aqui.
    Imenso beijo
    Ótima semana a você.

    ResponderExcluir
  2. Gabih,

    Adorei a citação do Madame Bovary! É um romance fundamental para a ascenção do Realismo pelo mundo. O autor é Gustave Flaubert. Li esse livro há certo tempo... o foco principal dele é no adultério de Emma Bovary (a Madame), casada com o médico que você citou. Não me lembro muito dos detalhes da história, por ter lido na correria do cursinho, mas agora me deu vontade de reler. Muito obrigado pela comparação... não é todo dia que alguém é comparado com Flaubert.

    ResponderExcluir
  3. O seu modo de escrever indica que você se inspira muito no Machado de Assis. Desde o tamanho dos capítulos até as formas de nomeá-los e escreve-los. Muito bom!

    ResponderExcluir