sábado, 19 de março de 2011

Capítulo 22 - Mudanças

Nem preciso lhes dizer a reação do compadre... vou resumir a história, para não pecar em detalhes inúteis ou falsos: Sr. Rafael saiu de minha casa e correu à sua para contar tudo ao compadre. Algumas horas depois, ele me aparece, com duas malas feitas, em frente à minha casa. O Compadre, com seu maldito orgulho inglês, havia expulsado o pobre menino de sua casa. Seus olhos estavam vermelhos do choro e seu rosto marcado por tapas. Não havia outra coisa a ser feita, eu o acolhi como faria a qualquer pessoa que me aparecesse desamparada. Agora ele e meu primo moravam no mesmo quarto.
            A princípio, tudo deu certo. Meu primo e ele se deram bem, sem maiores problemas. Os problemas de verdade eram conseqüências do escândalo que tudo aquilo provocou. Estávamos entrando na década de 80, e o povo ainda era muito mexeriqueiro. Ninguém que tivesse escolha queria se cuidar com o “padrinho do dito cujo”, que acolheu um “doidivanas” em casa, e que ainda por cima vivia dando dinheiro para uma “mulher fácil” não fazer ainda mais escândalos. Realmente, eu fiz tudo isso, mas não preocupado comigo mesmo, e sim com meu afilhado, que não podia viver sendo ridicularizado por morar com uma prostituta.
            Meu primo se foi... juntou umas economias (sempre foi muito bom nisso), e se foi, sem sequer se despedir. Isso não era de se estranhar, pois ele detestava despedidas. Deixou apenas uma carta, dizendo que gostava muito de mim, e que um dia ainda me agradeceria por tudo que fiz a ele. Senti-me arrasado, pensando que a culpa de tudo aquilo era minha. Porém, algo maior me tirou esse peso da consciência, o pequeno bebê de Sr. Rafael, que recebeu o nome de Pedro.
            Assim que esse moleque nasceu, Sr. Rafael me disse: “Ou fico com ele aqui, ou fora daqui!”. Eu fiquei de mãos atadas, sem saber como agir: não deixaria meu afilhado desamparado nas ruas cubatenses, assim como não deveria deixar o fruto de uma aventura viver em minha casa. Porém, como vocês sabem que coração de padrinho é mole, ele venceu, e o moleque passou a morar conosco.
            Essa história não se prolongou muito, pois algumas semanas depois, a mãe do moleque veio pegá-lo de volta, dizendo que se enganou, e que ele era filho de outro rapaz. Sr. Rafael chorou durante semanas, nem sequer saía de casa. Dizia não ter coragem para encarar os outros na rua. Porém, essa fase passou, e ele, como todo jovem aventureiro, se recuperou completamente. Creio que hoje nem mesmo se lembra de tal aventura.

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