domingo, 6 de março de 2011

Capítulo 9 - ... Dinheiro

Em Cubatão, era muito difícil você exercer qualquer profissão por sua conta, principalmente ser médico. A família Ruivo, uma das tradicionais da cidade, tinha o médico mais famoso daqui, o Dr. Mário Ruivo. Era um excelente médico, considerando os recursos que dispúnhamos na época. Estava sempre pronto para atender qualquer paciente. Atendia inclusive pacientes que não tinham como lhe pagar. Isso era ótimo para o povo e péssimo para mim. Por ser inexperiente, poucas pessoas me procuravam, ainda mais depois do ocorrido no parto.
            Graças a isso, dinheiro passou de solução a problema. Eu adorava receber meu afilhado em casa, assim como adorava viver com meu primo, porém o dinheiro que eu tinha começou a se esvair. Não, não coloquem a culpa em Edgard, ele nem mesmo sabia disso. Então, comecei a me endividar cada vez mais. Eu fazia de tudo para pagar minhas dívidas, mas não conseguia. Eu me senti entrando em um buraco cada vez mais fundo. Quanto mais eu lutava para sair dele, mais eu entrava. Porém, não poderia deixar que Edgard descobrisse isso. Imaginem só... ele não viria mais almoçar em minha casa, e eu perderia a maravilhosa companhia de Sr. Rafael!
            Porém, um dia, isso foi inevitável. Ele entrou em minha casa, e eu estava na sala de jantar, aproveitando que Rafael estava dormindo, para fazer algumas contas. Eu não o ouvi chegar, e quando me dei conta, ele já estava mexendo em meus papéis. Desesperei-me:

            -Edgard, como você entra assim em minha casa, sem ao menos me avisar!
            -Eduardo, fique quieto! Que contas são essas?
            -Eh... São apenas umas dívidas, nada demais. Deixe isso aqui – disse eu, já amontoando aquela pilha de papei a um canto. – E então, que bons ventos o trazem aqui?
            -Não são bons ventos, são maus. O dono do açougue foi falar comigo, para saber onde você estava, porque ele já bateu aqui três dias seguidos, para lhe fazer uma cobrança, e ninguém o atendeu.

            Senti meu rosto pegar fogo... não sabia mais o que fazer. E então, fiz o correto:

            -Edgard, eu estou em um buraco de dívidas. Ninguém procura meus serviços, ninguém confia em mim. Veja! – disse eu, mostrando o valor de minhas dívidas. – Eu nunca conseguirei esse dinheiro! Creio que nem minha casa vale isso!
            -Não se preocupe meu amigo – disse Edgard, se levantando, como se tivesse uma excelente idéia. – essa tristeza dura pouco! Darei um jeito!
            -Não senhor! Eu não quero dinheiro!
            -Quem falou em dinheiro?

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