quarta-feira, 9 de março de 2011

Capítulo 13 - Da Vergonha

Como já lhes disse, D. Maria era um peso morto no mundo. Só o que fazia bem (e como) era fazer o Compadre passar vergonha. Certo dia, eu, Sr. Rafael, Edgard, D. Maria, e meu primo estávamos na quitanda, comprando algumas verduras que estavam acabando. D. Maria, como já era de costume, saía mexendo em tudo. Pegava uma maçã, misturava com as peras; pegava uma melancia e colocava em uma prateleira vazia; e tudo isso só para “passar o tempo”. Então, enquanto ela escondia várias coisas, nós nos preocupávamos com coisas realmente sérias como o machucado na batata, o broto na cebola, etc. No fim, fomos pagar. Eis aí o dia que vi o Compadre realmente perder a cabeça. Fomos até o seu Zé, dono da quitanda. Quando chegamos lá, ele disse o preço, e acrescentou: - Isso sem contar com a maçã que a senhora sua irmã comeu, e a outra, que ela escondeu em baixo da saia! O Compadre olhou para ela, como se tivesse levado uma pancada no rosto, que tivesse feito todo o seu sangue se esvair de suas veias: - Devolva o que você está escondendo mulher!
            -Mas, mano, eu não estou escondendo nada!
            O Compadre pôs a mão no ombro de sua irmã, e a empurrou. Com a queda (Que não foi das menores) uma maçã saiu rolando, de baixo da saia de D. Maria. O Compadre abaixou a cabeça, se sentindo humilhado, e pegou todo o dinheiro que trazia na carteira, entregando para seu Zé, como forma de pagamento pela atitude da irmã, que não contente com o que tinha feito, antes de se levantar pegou a maçã, e saiu da quitanda comendo-a.
            Ao chegar à casa do compadre, em silêncio absoluto (interrompido somente pelas pequeninas e vorazes dentadas de D.Maria), o compadre disse-me “Meu amigo, por favor, leve as crianças para o quarto, que tenho que trocar umas palavras com minha... com essa mulher.” Eu levei as crianças ao quarto, e voltei para a sala. Quando cheguei lá, D. Maria estava sentada, com uma expressão de descaso no rosto, ainda comendo a metade da maçã, que restava. O Compadre começou um sermão para ela, que o interrompeu, dizendo “Mano, estou sentida com o que aconteceu, mas só o fiz porque você é avarento, e não compra as minhas maçãs, que já lhe disse que me fazem tão bem!” Quando ela acabou de dizer isso, o compadre lhe deu uma bofetada tão grande, que a metade que ela comia da maçã entrou inteira em sua boca, fazendo-a engasgar.

            -Suma de minha casa, sua... sua... mulher da vida!

            Hoje, essas palavras não significam nada, mas na época significavam muito. Mulher da vida era o pior xingamento para qualquer mulher. E para que o compadre a chamasse assim, acreditem, foi muito difícil!
            Então, ainda pasma e engasgada, D. Maria foi jogada, literalmente, para fora da casa. Suas roupas não foram levadas a não ser pelo lixeiro, que as levou em um grande saco de farinha, no outro dia.  Agora, D. Maria estava sem um teto para morar, graças a sua má índole.

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