sábado, 5 de março de 2011

Capítulo 4 - Do Batismo

            Com o ocorrido no parto, achei que Edgar iria se afastar de mim e, por precaução, me afastei dele. Sei que não tem muito sentido, mas na época foi a única coisa que me passou pela cabeça. Então, para a minha surpresa, cerca de uma semana depois, um moleque bateu à minha porta. Quando abri, ele me disse:

            -Doutor Marmota, o Senhor Edgar quer falar com o senhor!

            Após dar um peteleco no moleque, me arrumei, achando que poderia ser alguma emergência médica, e fui para lá. Quando cheguei, encontrei Senhor Edgar sentado na sala, me esperando.

            -Doutor, por que você sumiu daqui?
            -Bem, eu tenho andado muito ocupado... o senhor sabe, coisas de médico...
            -Entendo... bem, espero que você arrume tempo livre para vir visitar seu afilhado. Não quero que meu filho tenha um padrinho ausente.
            -Como? O senhor vai batizar o moleque?
            -Sim. Não me agrada a ideia, mas batizarei. Não quero que ele sofra depois o tanto que sofro até hoje!
            -Senhor Edgar, eu nem sei o que dizer...
            -Então não diga!
            -Será uma honra ser seu compadre!

            E realmente era. Sempre o fui, de certa forma, já que o compadre era apenas aquele homem que apenas aparecia para comer e falar sobre coisas inúteis. Mas agora seria oficial. E, para mim, aquilo era ainda mais significativo... eu seria padrinho de um moleque que eu mesmo vi nascer. Seria padrinho do fruto de meu primeiro parto.
            Quanto ao nome, eu escolhi Rafael porque esse é o nome de um primo meu, que é muito apegado a mim. Eu quis homenageá-lo. Ah, se eu soubesse o que aconteceria depois... bem, não adiantemos os fatos. O importante é que esse nome foi aprovado por Sr. Edgar, e por sua irmã (que se pronunciou, mesmo sem ninguém ter pedido a sua opinião).
            No dia do batizado, tudo ocorreu muito bem, eu vesti meu melhor terno, assim como todos que estavam assistindo. Naquela época, o padre Baltazar era responsável pela Nossa Senhora da Lapa, e ele celebrou o batizado. Devo dizer que me atrapalhei um pouco na hora de segurar o bebê, mas de resto tudo foi normal. Muitas pessoas se emocionaram durante a missa. Quando saímos, D. Maria (irmã de Sr. Edgar) fez questão de dizer, de uma maneira muito cristã: “Essa missa me fez repensar minhas atitudes, mano. Deus me revelou que eu sou muito ambiciosa, e devo fazer mais caridades”. Porém, essa revelação não foi forte o bastante. Quando cruzamos a escadaria da igreja, um mendigo veio choramingando padre nossos, para ganhar alguma esmola, e o máximo que conseguiu de D.Maria foi uma bela “sombrinhada” na cabeça.

Um comentário:

  1. Boa! Creio que Edgar batizou o filho apenas para o livrar da dor. A mulher gostaria que ele o fizesse, aliás, como você mesmo disse, ela era muito apegada à igreja. Desta forma me fez lembrar minha mãe, e meu pai que tem um quê de Edgar. Sempre quando aparecem Evangélicos aqui em casa, ele não insiste em discutir religião, logo põe Padre Marcelo no rádio, zanga o pessoal e eles vão embora.

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